Monday, February 11, 2013

AMEDEO FERRI - VITÓRIA CONTRA A MARÉ



Por Carlos de Paula
Uma coisa não se podia dizer de Amedeo Ferri, que era supersticioso. O piloto nascido na Itália, naquela altura radicado no Brasil há vinte anos, mais precisamente no Rio Grande do Sul, há muito tempo usava sem nenhuma hesitação o número treze, exposto em evidência no seu Bino de Fórmula Ford de carroceria de linhas retilíneas. E em 1978 finalmente provou que a tal superstição em volta do número treze é uma grande besteira: sagrou-se campeão brasileiro de Fórmula Ford, apesar dos pesares

Naquele ano Amedeo era de longe o mais antigo veterano da categoria, participando das provas há sete anos - muitos dos seus concorrentes eram crianças quando ele iniciara na categoria. Foi o último gaúcho da primeira geração a continuar competindo na categoria. No começo das suas atividades na Fórmula Ford, pouco podia fazer contra equipes bem estruturadas como a Hollywood, Shelton, Motoradio, Brahma e Telefunken, portanto só lhe bastava competir. Entretanto, com o aumento de prestígio da Fórmula Super-Vê, as grandes equipes e nomes do automobilismo migraram para esta última categoria, deixando o campo livre para concorrentes como Amedeo, que contavam com esquemas mais simples, brilharem. Pois o esquema do gaúcho era assaz simples, quase zero: ele, ele mais ele, com alguma ajuda da esposa Elza. Ele preparava e montava o carro, ele guiava o velho ônibus que o transportava para as corridas, ele consertava e ele pilotava nos domingos.

O ano começara bem para Amedeo, que ganhou as duas primeiras corridas da temporada, inclusive uma raçuda e memorável performance na segunda prova do ano, em Cascavel. Largou em 24° na final, após ter severos problemas nos treinos e na bateria eliminatória, e com muita combatividade bateu todos os concorrentes, que incluíam Maurizio Sandro Sala, Fernando Dias Ribeiro, Alexandre Negrão e os locais Valdir Favarin e Tamoio Fedumenti, este último notável por ter ganho uma corrida com um Aero Willys contra diversos Simcas nos anos 60, fato muito raro.

Já na primeira volta da final Amedeo passou em 12°, assumindo a ponta ao ultrapassar o jovem Fernando Dias Ribeiro, irmão de Alex, na 11a. volta das 13 voltas da final. A corrida fora uma grande dor de cabeça para Ferri. A caixa de satélites do seu diferencial quebrou e ele teve que adaptar uma peça para largar na eliminatória. Depois, nessa bateria teve um acidente com Jaime Figueiredo, amassando o peculiar bico do seu carro e furando o radiador. Ainda assim concluiu a bateria com quatro voltas de atraso, após fazer reparos às pressas nos boxes - por conta própria, lógico.

Chegando no Rio de Janeiro, Amedeo era o franco favorito para ganhar o título. Entretanto, o piloto estava extremamente desgastado com a sua realidade esportiva. Ser “one man show” não é fácil, principalmente quando a saúde não está bem. Na longa viagem do Rio Grande para o de Janeiro, Amedeo ficou doente, com muita desidratação, e chegando na Cidade Maravilhosa estava caindo aos pedaços, com febre de quarenta graus.

Assim que naquele que poderia ser o fim de semana mais feliz da carreira do piloto, Amedeo estava nervoso, indisposto, vomitando, sem energia, e completamente atípico. Acostumado com boas posições no grid, Amedeo só marcou o 11° tempo nesta quinta etapa do Campeonato Brasileiro de Fórmula Ford. O único piloto que poderia ameaçar o título de Amedeo era Maurizio Sandro Sala: tinha treze pontos ao chegar no Rio, e se ganhasse as duas últimas corridas, sem que Amedeo pontuasse, Maurizio ganharia o título por um pontinho.

Na corrida, Amedeo chegou a ocupar a quinta posição, mas acabou sendo fechado pelo seu desafeto da primeira corrida, Jaime Figueiredo, e caiu para o oitavo lugar. Na frente, as coisas estavam favorecendo o ítalo-brasileiro: Fernando Dias Ribeiro, que mostrava bastante velocidade desde o começo do ano, de fato, perdera a corrida de Cascavel para Ferri, mas não conseguira ganhar nenhuma prova, liderava a prova à frente de Sala. No final da corrida das 20 voltas,

Fernando conseguiu a sua primeira vitória, permanecendo na frente de Sala, que assim, perdia a sua oportunidade de ganhar o título. Quanto a Ferri, chegou em sétimo e ganhou o título por antecipação.

No final, um desabafo. Ferri estava cansado do seu esquema, e dizia que iria abandonar a categoria se não conseguisse uma estrutura mais profissional, como a dos seus concorrentes.
Entre outras coisas, o combativo piloto estava cansado da politicagem tão típica das corridas brasileiras: nessa mesma prova, Maurizio reclamou do carro de Fernando, que após a vistoria foi considerado dentro do regulamento. As corridas da época eram verdadeiros festivais de protestos. Amedeo mesmo já fora alvo de diversas disputas similares fora da pista. Além disso, sem dúvida Jaime Figueiredo não estava na sua lista de pessoas prediletas.

Apesar dos pesares, Amedeo continuou na Fórmula Ford, sem, entretanto, repetir o sucesso de 1978...

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