Friday, March 1, 2013

Chateau na FF

Em 1976 Jose Pedro Chateaubriand já era um veterano do automobilismo brasileiro. Já tinha corrido de monopostos, carros de turismo e protótipos. Pilotara Opalas, FNM, Manta e Avallone de D-4, Puma, Bino de F-Ford e Kaimann de Super-Vê. Além disso, fora piloto oficial da March na F-3 britânica, em 1974, com seu melhor resultado, segundo lugar. Fora um pouco mais adiante, tentando um lugar ao sol na F-2 no final de 1975, sem sucesso. Não que Zé Pedro, ou Chateau, como era mais conhecido, não tivesse um título brasileiro. Sim, tinha sido campeão da categoria B da Divisão 3, em 1972, com um FNM. Mas nem mesmo Chateau levava tal título a sério, era praticamente o único concorrente do campeonato. Faltava-lhe algo, digamos, mais substancial.

Voltando da Eurpa em 75, Chateau inovou, trazendo a tiracolo o mecânico inglês Malcomn Hill para a sua equipe de Formula Super-Vê, a Diauto Condugel, e logo se tornou um dos principais pilotos da categoria. Ganhou uma corrida do nacional, e outra do paulista da categoria. No final, ficou atrás de Chiquinho Lameirão e empatado com Eduardo Celidônio, mas tinha consciência de que era um dos principais pilotos da categoria que fazia furor no Brasil. Numa reportagem de fim de ano do jornal especializado Auto Motor, Chateau fez pouco de Chiquinho Lameirão, ao não incluir o campeão na sua lista de melhores pilotos da categoria. Certamente, Chateau se achava superior ao merecido campeão, e não fora nada político...

Para 1976, Zé Pedro passaria a fazer parte da bem estruturada equipe Brahma, cujo chefe era Jan Balder, e seria o único piloto a correr nas duas principais categorias de monopostos do Brasil naquele ano, a Super-Vê e a Formula Ford. Na Super-Vê, já chamada Formula VW 1600, as coisas não foram muito bem para Zé Pedro. Depois de 10 corridas, o paulista só acumulara 8 míseros pontos com o novo Kaimann equipado com motor de Henrique Iwers. Até Lameirão, que também tivera uma temporada fraca, com muitas quebras, pontuou mais, 14, e ainda por cima ganhou uma prova! Zé Pedro pagou a língua.

A Formula Ford voltara a ter um regulamento mais próximo do original. Em 74 e 75, a performance dos carros da categoria foi substancialmente melhorada, visando equipara-la à Super-Vê. De forma acertada, a CBA resolver restringir o preparo dos F-Ford, mudando o paradigma da categoria, reduzindo custos e tornando a categoria mais competitiva. Assim, aumentou a competitividade, e também estufaram-se os grids da F-Ford, que nunca tiveram mais de 30 carros nos cinco anos da categoria. Entretanto, os carros voltaram a rodar em Interlagos na base de 3m30s, ou seja eram 30 segundos menos velozes que os Formula VW 1600.

Embora a experiência na VW 1600 de 1976 tenha sido desastrosa para Chateau, já começou o campeonato de Formula Ford ganhando a primeira prova, com um Avallone com motor preparado por Elisio. Entretanto, havia muita gente boa no campeonato. Amedeo Ferri, Arthur Bragantini, Alencar Junior, Walter Soldan, Amedeo Campos, Camilo Cristofaro Junior, Alexandre Negrão, Aloisio Andrade Filho, Edson Graczyk e estreantes como Jayme Figueiredo, Alberto Nuziata e Carlos Abdalla. Cabe aqui um pormenor. A revista AE de dezembro de 1976 relata, incorretamente, que esta era a primeira corrida de Arthur Bragantini na categoria. Na verdade, Arthur havia disputado diversas provas de F-F em 1973, na Equipe Ifesteel, e duas na Manah, em 1975. Isto é importante porque Bragantini viria a ser o piloto de maior sucesso na história da F-F brasileira.

Voltando ao texto. Assim, chegando na final do campeonato, em 13 de novembro, em Interlagos, as coisas estavam emboladas. Além de Chateau, que tinha 18 pontos, diversos outros pilotos tinham chances matemáticas de ganhar o torneio: Amedeo Ferri (com 17 pontos), Walter Soldan (que estava empatado com Chateau, com 18) e Amadeo Campos, com 11 pontos. Ricardo Lenz também tinha chances mas não estava inscrito na corrida.

Já nos treinos, Zé Pedro demonstrava superioridade, marcando o melhor tempo na frente de Alencar, Graczyk, Soldan, Ferri e Jayme. No domingo, 34 carros largaram, e Zé Pedro já saiu na frente na primeira bateria. Alencar Junior eventualmente passou Zé, que depois da bateria disse estar poupando o carro para a última volta. E, de fato, Chateau voltou a ultrapassar Alencar, que terminou em segundo, seguido de Alberto Nunziata e Carlos Abdalla. Entre os concorrentes diretos de Chateau, o melhor posicionado era Ferri, que chegou em sétimo, sendo que Walter Soldan já estava fora da disputa.

Mas o título não estava ganho. Na final da Super-Vê, em 1974, ganhou a última corrida (sem ganhar nenhuma das três baterias da corrida) e o campeonato justamente o piloto com piores chances, Marcos Troncon. Ainda poderia dar uma zebra na F-F e o título ficar com Amadeo Campos, por exemplo, e certamente, Amedeo Ferri era uma grande ameaça.

O combativo Ferri, segundo alguns, tinha sido protagonista de um incidente na primeira bateria que envolvera Arthur Bragantini, Aloísio Andrade Filho e Edson Graczyk, todos ponteiros. Isso causou grande mudança no resultado, mas acima de tudo, fez com que Ferri terminasse em sétimo. Houve grande confusão na largada da segunda bateria, e quem passou liderando na primeira volta foi o estreante Jayme Figueiredo, seguido de Nunziata, Abdala, Alencar, Chateaubriand, Camilinho, e depois Ferri. Este conseguiu chegar na ponta na segunda volta, e logo a corrida se tornou uma batalha campal entre Amedeo e Zé Pedro. Ferri eventualmente protagonizou outro incidente, contribuindo para o abandono de três outros carros. O gaúcho estava parecendo o Jody Scheckter em 1973! Certamente, não era um homem muito popular no final da corrida.

De qualquer maneira, Ferri continuou a batalhar com Chateau, que conseguiu chegar à frente do gaúcho com 13 centésimos de segundo de vantagem, garantindo a vitória na corrida e no campeonato. Assim, Chateaubriand ganhou seu primeiro campeonato de gente grande, e também o primeiro titulo para a Brahma. Além disso, foi o único título obtido por um Avallone monoposto, e o primeiro ganho por um carro que não fosse Bino na F-Ford.

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